50 ANOS DE: MINHA CIDADE, MINHA SAUDADE, LIVRO DO ESCRITOR LUÍS WILSON


Por: Carlos Alberto Cavalcanti

MINHA CIDADE, MINHA SAUDADE – LUÍS WILSON. Meio século se registra sobre a publicação da primeira edição de um livro extraordinário, encantatório e repleto de dados históricos, sentimentais sobre a formação de ARCOVERDE e cercanias e a consolidação político-social que, palmo a palmo, o trabalho de tantas famílias promoveu ao longo dos anos. Era prefeito, naquela ocasião (1972), o professor Giovani Porto, detentor de uma vasta cultura e, coincidentemente, também detentor de conhecimentos históricos que o tornavam um admirável professor e orador.

Segundo (SALVIANO FILHO, 2020)1, LUÍS WILSON DE SÁ FERRAZ, nascido em 1917, na Vila Bela que hoje é Serra Talhada, veio, em 1920, com os pais, para Rio Branco, integrando-se, desse modo, à comunidade que daí em diante passou a ser o seu berço, a sua terra. O pai, Seu Noé do Bar, passou a ser uma figura das mais queridas na configuração social da cidade em desenvolvimento, seja pelo seu tino empreendedor e mais ainda pelo seu jeito folclórico, engraçado, filosófico de encarar a vida. Suas “tiradas” são frases ou provérbios que logo ganharam as paredes do seu próprio bar, cenário de sua vida cotidiana, e a boca do povo que as reproduzem ainda hoje.

A vida escolar de Luis Wilson tem passagem por Pesqueira, Garanhuns até chegar ao Recife, onde, em 1940, tornou-se médico. Daí em diante, clinicou, fez amizades, criou, junto a amigos, o Centro de Estudos de História Municipal da Fundação de Desenvolvimento dos Municípios do Interior de Pernambuco, integrou a SOBRAMES- Recife e outras entidades literárias e, naturalmente, escreveu muito, deu uma contribuição extraordinária para a divulgação de fatos sobre a história de Pernambuco, sobretudo desses municípios sobre os quais escreveu com farta referência documental, o que torna os seus livros uma fonte de consulta permanente para leitores comuns e leitores acadêmicos que tenham em vista algum trabalho de pesquisa nessa linha historiográfica.

Das obras que Luís Wilson publicou, com certeza, sobretudo para Arcoverde, MINHA CIDADE, MINHA SAUDADE, que ora completa meio século de sua primeira edição, se constitui num livro vivo, uma coletânea de fatos documentais, sobretudo de fatos sentimentais, haja vista que Arcoverde foi, para o autor, não só o objeto de pesquisa, mas também a sua cidade de infância, juventude e maturidade. Laços indeléveis de aspectos memorialistas se somam ao pulso firme do pesquisador-historiador e dão um sabor presencial às 511 páginas de registros minuciosos enriquecidos por farta ilustração fotográfica que foi, inclusive, segundo seu depoimento, o ponto de partida para a obra quando – diz Luís Wilson na introdução da edição de 1972 – que também consta na segunda edição publicada em 1983:

Há cerca de um ano, jantando com Luís Cristóvão dos Santos, caí na tolice de lhe mostrar 10 ou 15 álbuns de velhas fotografias de Rio Branco (Arcoverde), que eu possuo, grande parte das quais recebi de presente do Dr. Luís Coelho. Escrevera, então, embaixo de cada foto, o que me dava na cabeça. [...] Luís Cristóvão - diante dessas legendas em cerca de 200 a 300 fotografias – me convenceu a acabar com os meus álbuns e escrever mais sobre Rio Branco (WILSON, 1972, p. 33-4)2.

A propósito, foi Luís Cristóvão dos Santos (escritor pesqueirense e integrante da Academia Pernambucana de Letras) quem prefaciou a primeira edição de MINHA CIDADE, MINHA SAUDADE. Na verdade, mais que um prefácio, Cristóvão profere uma conferência histórica, com detalhes e beleza de cronista-sociólogo, sobre a História que une, no tempo e no espaço, Pesqueira e Arcoverde, em cujo relato já aparece o seu amigo de estudos e futuro escritor Luís Wilson.

Lê-se em dado trecho desse discurso historiográfico que escreve o jornalista pesqueirense no prefácio antológico sobre Luís Wilson ainda menino: “[...] foi ali no meio dos companheiros dos bancos escolares que eu o conheci [...] sujeitinho baixo [...] vivo como uma carrapeta [...] chegado do Antigo Rio Branco” (SANTOS, 1972 apud WILSON, 1972, p. 25)3.

Os meninos crescem. Cristóvão e Wilson seguem para Recife. Se reencontram, já adultos, cada um com suas tarefas profissionais definidas. Um abraça o Direito e o outro a Medicina. É quando se dá o encontro acima citado, e o filho de Noé acolhe a ideia do amigo de Pesqueira e passa a pescar tudo quanto é fotografia e recortes de revistas, jornais, além de ouvir seguidos relatos de pessoas da comunidade sobre a formação histórico-social desde o Olho d’Água dos Bredos a Rio Branco e depois Arcoverde. 

Em verdade – diz Cristóvão – o médico Luís Wilson aproveitou os seus conhecimentos de oftalmologista e pôs nos olhos lentes poderosas para com elas melhor devassar a distância dos primórdios da história de Arcoverde, alongados no tempo por mais de século (SANTOS, 1972 apud WILSON, 1972, p. 31)4.

Assim, ao longo de 21 capítulos a obra reúne o produto da dedicação de pesquisador e do afeto de Luís Wilson por Arcoverde. Cada capítulo apresenta, no índice, subtópicos que já antecipam sobre o que aguarda o leitor no decorrer da leitura.

Vale dizer que uma segunda edição da obra foi publicada em 1983, acrescida de algumas correções necessárias sobre nomes e datas e também de mais textos e fotos. Vem prefaciada pelo então prefeito Ruy de Barros Correia Filho, também médico, homem de muita cultura, cujas palavras reiteram a favor do autor da obra a mesma compreensão que outros nomes da área literária já haviam dito, e o Dr. Ruy, com humildade, reconhece. Contudo, vale registrar um trecho do prefácio do Dr. Ruy de Barros ao afirmar, tocado pela sensibilidade que lhe era peculiar em relação ao amor pela cidade de Arcoverde:

Nós, os arcoverdenses, só podemos dizer que sentimos um orgulho imenso da amizade de Luís Wilson [...] que se reveste de nuances tão características e tão próprias que ainda precisa ter uma resposta especialíssima do povo de Arcoverde. [...] Tenho certeza absoluta de que não há nenhum exagero de minha parte em dizer: o Dr. Luís Wilson de Sá Ferraz conseguiu dar uma nova identidade a Arcoverde. [...] Hoje, é tão importante saber quem é Arcoverde como orgulhar-se de quem foi Arcoverde (CORREIA FILHO, 1983 apud WILSON, 1983, p. 28)5.

Ao fim dessas considerações a título de homenagem a uma obra que está a merecer uma terceira edição, pois as duas aqui citadas são hoje em dia muito raras, disponíveis para venda em sebos através da busca na Internet, e algumas catalogadas nas bibliotecas públicas da cidade, são guardadas com muito cuidado, a fim de preservar a condição física da obra, sendo permitida a consulta apenas no recinto da biblioteca.

Portanto, uma terceira edição, num acordo entre a Prefeitura e o Governo do Estado, que detém a direção da CEPE (Companhia Editora de Pernambuco) em muito resgataria essa memória viva para as gerações atuais bem como, de fato, cumpriria o reconhecimento a quem, com desprendimento, competência, carinho e muita arte, se deu inteiramente ao labor de fazer o registro, no cartório da História, sobre a cidade de Arcoverde, para onde veio na infância e aqui fincou suas raízes e se projetou para o mundo, posto que ao produzir uma vasta obra de caráter eminentemente historiográfica e memorialista, haverá de sempre ter o olhar de novos leitores debruçados sobre as minúcias da construção social, cultural que resultou na Arcoverde por ele sempre amada.

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1 SALVIANO FILHO, Pedro. O Historiador Luís Wilson. Jornal de Arcoverde (mai/jun 2014). Disponível em https://jornaldearcoverdehistoriasregiao.blogspot.com/2020/03/o-historiador-luis-wilson.html Acesso em 14 nov. 2022.

2 WILSON, Luís. Minha Cidade, Minha Saudade. Recife: Editora Universitária da UFPE, 1972.

3 SANTOS, Luís Cristóvão dos. Prefácio. In: WILSON, Luís. Minha Cidade, Minha Saudade. Recife: Editora Universitária da UFPE, 1972.

4 Idem. Prefácio. In: WILSON, Luís. Minha Cidade, Minha Saudade. Recife: Editora Universitária da UFPE, 1972.

5 CORREIA FILHO. Ruy de Barros. Prefácio. In: WILSON, Luís. Minha Cidade, Minha Saudade. Recife: Centro de Estudos de História Municipal – FIAM, 1983.

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REFERÊNCIAS:

CORREIA FILHO. Ruy de Barros. Prefácio. In: WILSON, Luís. Minha Cidade, Minha Saudade. Recife: Centro de Estudos de História Municipal – FIAM, 1983.

SALVIANO FILHO, Pedro. O Historiador Luís Wilson. Jornal de Arcoverde (mai/jun 2014). In: Disponível em https://jornaldearcoverdehistoriasregiao.blogspot.com/2020/03/o- historiador-luis-wilson.html Acesso em 14 nov. 2022.

SANTOS, Luís Cristóvão dos. Prefácio. In: WILSON, Luís. Minha Cidade, Minha Saudade. Recife: Editora Universitária da UFPE, 1972.

WILSON, Luís. Minha Cidade, Minha Saudade. Recife: Editora Universitária da UFPE, 1972.

____. Minha Cidade, Minha Saudade. Recife: Centro de Estudos de História Municipal – FIAM, 1983.


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