40 ANOS DE: MUNICÍPIO DE ARCOVERDE (RIO BRANCO) CRONOLOGIA E OUTRAS NOTAS, LIVRO DO ESCRITOR LUÍS WILSON


Por: Carlos Alberto Cavalcanti

No espaço de tempo que se dá entre a primeira edição de Minha Cidade, Minha Saudade (1972) e a segunda edição (1983), o escritor-historiador Luís Wilson de Sá Ferraz publicou, em 1982, portanto, há 40 anos: MUNICÍPIO DE ARCOVERDE (RIO BRANCO) CRONOLOGIA E OUTRAS NOTAS, na mesma linha de pesquisa historiográfica e com a mesma competência de arrolamento de dados, documentação e acervo fotográfico. 

A obra reúne, como já anuncia o título, a soma documental e sentimental com que o autor se debruça numa pesquisa que o coloca diante de uma tarefa intelectual de pesquisador e concomitantemente de alguém cujas raízes já se adentrara não só na História de Arcoverde, mas igualmente na vida de Arcoverde, haja vista ter também a sua vida plantada na Terra do cardeal, quando aqui chegou nos idos de 1920.

O prefácio vem assinado pelo professor Joel de Holanda e, nas orelhas da obra, o professor Inocêncio Lima tece um comentário que, sem dúvida, pode ser chamado de um segundo prefácio, posto que se alarga em conteúdo e reconhecimento sobre a escrita de Luís Wilson tanto quanto se faz no espaço indicado para o prefácio. Ao fazê-lo no recorte mais restrito das chamadas orelhas, o professor Inocêncio, de posse de sua qualidade reflexiva e habilidade de expressão, com certeza duplicou o prefácio ou alongou as orelhas, o que, nas duas situações, contribuiu para o registro opinativo de valor sobre o trabalho do historiador arcoverdense, o filho de Noé do Bar, doutor Luís Wilson. 

A obra sobre a qual destacamos os 40 anos de publicação é como se, desentranhada de Minha Cidade, Minha Saudade, o autor reunisse de maneira epistolar, afetuosa e historiográfica, suas impressões fundamentadas na farta documentação a que teve acesso bem como ao acervo iconográfico que se acrescenta e atualiza ainda mais o relato que se torna mais detalhado e mais arcoverdense.

Do acervo de obras elaboradas por Luís Wilson com esse sentido de registro histórico, com certeza esse exemplar tem mais de sua alma arcoverdense além do trabalho de exímio catador de informes e revelações orais e escritas que se transformam em dados de alto teor documental como se vê nessa obra. Pernambuco se orgulha de um Gilberto Freire, de um Josué de Castro, na Sociologia; contudo, há que incluir no rol desse elenco brilhante de homens dotados de uma genialidade para coletar e sistematizar dados históricos intermeados por um sentimento telúrico, o nome desse sertanejo que leu o Estado, mais detidamente o sertão, e com mais prazer e amor, Arcoverde, que é o Dr. Luís Wilson. 

Basta que se consulte prefácios, comentários de fortuna crítica sobre suas obras para se convencer da notabilidade do autor, se bem que, em pessoa, sua simplicidade o fizesse avesso às maquiagens da vaidade. Vejamos breves citações colhidas da apreciação dos amigos e intelectuais que opinaram sobre a escrita de Luís Wilson.

A começar pelo prefácio de Joel de Holanda Cordeiro: “[...] Cada página do livro tem para mim o sabor de reencontro [...] a cidade se deu toda à criança e ao adolescente que povoou suas ruas com sonhos e fantasias emocionados” (CORDEIRO, p. 23) (1). Em seguida, o professor Joel de Holanda elenca nomes de localidades a que ele chama de “territórios conhecidos”: Aldeia Velha, Riacho do Mel, Serra das Varas, Caraíbas, Ipojuca entre outras localidades familiares da área geográfica do município. Mais adiante, Joel afirma que: 

“Rebuscando o passado, analisando eventos e datas [...] Luís Wilson surge aos olhos dos estudiosos como o portador da mais vasta e significativa contribuição ao conhecimento documental do agreste e do sertão de Pernambuco” (CORDEIRO, 1982 apud WILSON, 1982, p. 24) (2).

Ao dizer, por fim, que “O livro é um achado”, Joel reafirma a admiração que tem pelo autor que, movido por uma capacidade de investigação aguçada, faz que voltem a vibrar os acontecimentos já vividos como se, por um processo de abdução memorialista, todos de agora mergulhassem nas águas caudalosas das saudades.

Ao referir-se ao conjunto das publicações de Luís Wilson, o professor Inocêncio Lima abre o seu texto nas orelhas afirmando que a obra que ora completa 40 anos de sua publicação representa: “a continuidade de um persistente esforço de reconstruir a memória de sua/nossa sorridente e alegre cidade” (LIMA, 1982 apud WILSON, 1982) (3).

Reconhece Inocêncio que “em toda sua obra e sob todas as formas a revelação cônscia de sua grande obstinação: deixar para Arcoverde o valioso patrimônio de sua fonte histórica mais completa, mais objetiva e mais válida” (LIMA, 1982 apud WILSON, 1982) (4). Com isso, o professor Inocêncio assegura que “haverão todos e a seu tempo de reconhecê-lo como o HISTORIADOR DE ARCOVERDE” (LIMA, 1982 apud WILSON, 1982) (5). Inocêncio afirma ser esse título emérito perfeitamente correspondente às qualificações do autor que, de forma “beneditina” – afirma professor Inocêncio – ainda assim não define por completo a grandeza do homem Luís Wilson e da obra por ele escrita.

Na parte final da orelha, o professor Inocêncio elenca do sumário aspectos pontuais que demonstram a dinâmica estrutural do desenvolvimento de Rio Branco-Arcoverde, e cita dados concretos: Entre a primeira metade do século XIX e início do século XX, a “vocação comercial” consolidada com a “primeira feira de gado”; outro dado a destacar é que também na primeira metade do século XIX, a primeira escola e nos anos 20, do século XX, “possuía sua Liga Contra o Analfabetismo” (LIMA, 1982 apud WILSON, 1982) (6)

E assim vai o professor pinçando pontos na linha de tempo da história municipal, reiterando a certeza de que as gerações atuais muito devem ao altruísmo, trabalho e abnegação de tantos que deveriam estar na ordem do dia das aulas de hoje, tendo em vista estimular aspirações efetivas de cidadania no alunado tão refém de tecnologia e tão ausente de um espírito de admiração pelos que se deram intensamente no labor e na construção do que, para eles, era o futuro e que, agora, é o nosso presente.

Por fim, das orelhas da primeira edição de MINHA CIDADE, MINHA SAUDADE, lemos: “Sim, este livro é para ser lido com o coração” (LINS, 1973 apud WILSON, 1983) (7). Trata-se de uma frase do jornalista Alberto Frederico Lins que consta numa matéria intitulada: Um Romance de Saudade (Jornal do Commercio, 11-04-1973) sobre o livro acima citado (de Luís Wilson).  Na mesma orelha, lê-se: “recordando o Arcoverde das jovens e inquietas esperanças, revivi uma das melhores épocas da minha existência [...] na retroterra [...] do Sertão dos heroísmos desconhecidos, telúrico e desafiador” (PARAHYM, 1973 apud WILSON, 1973) (8), a propósito de uma matéria do Dr. Orlando Parahym publicada no Diário de Pernambuco em 24-04-1973, com o título: História de Arcoverde. Do professor João Vasconcelos: “História, biografia, romance, o livro de Luís Wilson ilustra pelo que oferece de conhecimentos sobre fatos e coisas, e recreia pela maneira leve e gostosa em que está escrito” (VASCONCELOS SOBRINHO, 1973 apud WILSON, 1983) (9).

Confirma-se, portanto, a riqueza textual e a organização laboriosa dos dados coletados pelo historiador Luís Wilson em cada depoimento como se fosse produto de uma combinação prévia entre os comentaristas quando, na verdade, é a indissolúvel uniformidade das impressões causadas pela qualidade da produção publicada seja em MINHA CIDADE, MINHA SAUDADE, no que aqui acabamos de registrar nossa solidariedade ao aniversário dos 40 anos de publicação ou nas demais obras do autor. Tomara que, em breve, essas edições sejam republicadas pela CEPE para que, em tempo, os jovens da atualidade se debrucem em sua leitura agradável e informativa.

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1. CORDEIRO, Joel de Holanda. Prefácio. In: WILSON, Luís. MUNICÍPIO DE ARCOVERDE (RIO BRANCO) (Cronologia e outras notas). Recife: Secretaria de Educação, 1982.

2. Idem. Prefácio. In: WILSON, Luís. MUNICÍPIO DE ARCOVERDE (RIO BRANCO) (Cronologia e outras notas). Recife: Secretaria de Educação, 1982.

3. LIMA, Antônio Inocêncio. Orelha. In: WILSON, Luís. MUNICÍPIO DE ARCOVERDE (RIO BRANCO) (Cronologia e outras notas). Recife: Secretaria de Educação, 1982.

4. Idem. Orelha. In: WILSON, Luís. MUNICÍPIO DE ARCOVERDE (RIO BRANCO) (Cronologia e outras notas). Recife: Secretaria de Educação, 1982.

5. Idem. Orelha. In: WILSON, Luís. MUNICÍPIO DE ARCOVERDE (RIO BRANCO) (Cronologia e outras notas). Recife: Secretaria de Educação, 1982.

6. Idem. Orelha. In: WILSON, Luís. MUNICÍPIO DE ARCOVERDE (RIO BRANCO) (Cronologia e outras notas). Recife: Secretaria de Educação, 1982.

7. LINS, Alberto Frederico. Orelha. In: WILSON, Luís. Minha Cidade, Minha Saudade. Recife: Editora Universitária da UFPE, 1972.

8. PARAHYM, Orlando. Orelha. In: WILSON, Luís. Minha Cidade, Minha Saudade. Recife: Editora Universitária da UFPE, 1972.

9. VASCONCELOS SOBRINHO, João. Orelha. In: WILSON, Luís. Minha Cidade, Minha Saudade. Recife: Editora Universitária da UFPE, 1972.


REFERÊNCIAS:

CORDEIRO, Joel de Holanda. Prefácio. In: WILSON, Luís. MUNICÍPIO DE ARCOVERDE (RIO BRANCO) (Cronologia e outras notas). Recife: Secretaria de Educação, 1982.

LIMA, Antônio Inocêncio. Orelha. In: WILSON, Luís. MUNICÍPIO DE ARCOVERDE (RIO BRANCO) (Cronologia e outras notas). Recife: Secretaria de Educação, 1982.

LINS, Alberto Frederico. Orelha. In: WILSON, Luís. Minha Cidade, Minha Saudade. Recife: Editora Universitária da UFPE, 1972.

PARAHYM, Orlando. Orelha. In: WILSON, Luís. Minha Cidade, Minha Saudade. Recife: Editora Universitária da UFPE, 1972.

VASCONCELOS SOBRINHO, João. Orelha. In: WILSON, Luís. Minha Cidade, Minha Saudade. Recife: Editora Universitária da UFPE, 1972.


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